domingo, 6 de fevereiro de 2011

PAIS DEVEM ESTAR ATENTOS À DISLEXIA

Pais devem estar atentos à dislexia

Reconhecer os sintomas é o primeiro passo para facilitar a aprendizagem entre as crianças que sofrem com esse distúrbio
Ninguém ousaria dizer que Albert Einstein formulador de, entre outras teorias, da relatividade - era burro. Ou considerar Thomas Edison - o inventor da lâmpada elétrica - um retardado mental. Os dois gênios, no entanto, foram chamados disso e muito mais. Tudo por culpa de um distúrbio de aprendizagem que, às vezes, leva anos para ser identificado: a dislexia.
Trocar letras como o b e o d, ou o p e o q, fazem parte da rotina das crianças que têm que conviver com o problema. Assim como a dificuldade de decifrar as frases que a professora coloca no quadro negro, ou dar sentido às contas matemáticas. Os sintomas, no entanto, são freqüentemente confundidos com problemas de inteligência. "É um erro grave", afirma a fonoaudióloga Maria Conceição Oliveira, especialista no tratamento de disléxicos. "O disléxico tem, geralmente, a inteligência normal."
A dislexia é um problema de conseqüências conhecidas, mas causas nem tanto. Pouco se sabe de concreto até hoje sobre o porquê de uma criança saudável, inteligente e ativa não conseguir distinguir letras e números.
Segundo o neuropsiquiatra Salomão Schwartzmann, especialista em problemas cerebrais, alguns estudos mostram que a maior parte dos disléxicos têm lesões cerebrais quase imperceptíveis. Outros mostram que a assimetria comumente encontrada em partes do cérebro de pessoas sem problemas - o lado esquerdo maior que o direito - é invertido ou não existe nos disléxicos.
Mas estas diferenças não se confirmam em todos os casos, o que continua fazendo das causas uma incógnita. "Não quero passar a odéia de que todo o disléxico tem uma má formação cerebral. Uma percentagem deles tem, mas isso não significa que essa seja mesmo a causa", diz Schwartzmann.
GENÉTICA
Um estudo feito na Universidade de Oxford, na Inglaterra, liga o problema à genética. A criança herdaria o gene da dislexia de seus pais, sendo eles disléxicos ou não. "Nós não esperamos que haja um gene para leitura, mas acreditamos que haja um ligado ao desenvolvimento da linguagem", explica John Stein, do Laboratório de Fisiologia da Universidade. Um problema neste gene causaria o distúrbio.
As causas não são claras, mas os resultados bastante visíveis para as crianças que as enfrentam todos os dias na escola. A sala de aula se transforma em um pesadelo. Provas, em obstáculos intransponíveis.
As principais características da dislexia são os problemas para ler, escrever e lidar com números. As crianças costumam espelhar os sinais - o p vira q, o 16, 61 - comer letras, e ter dificuldades para copiar o que está no quadro. Também podem escrever frases juntando as palavras.
Outro problema pode ser a localização espacial e a memória. Dificuldades em assimilar conceitos como direito e esquerdo, em cima e embaixo, na frente ou atrás, dentro ou fora. "Um disléxico tem dificuldades de decorar letras de músicas ou a tabuada, por exemplo", explica a fonoaudióloga Maria Conceição.
Os problemas físicos podem causar outros danos, mais difíceis de tratar: auto-estima baixa e uma péssima imagem de si mesma. "Preguiçosa", "infantil", "desinteressada", "burra" são apenas alguns dos adjetivos que a criança com dislexia recebe quando começa a apresentar os primeiros sintomas. Poucas pessoas conseguem reconhecer os sinais com facilidade e tendem a acreditar que a criança tem problemas cerebrais, ou é mesmo preguiçosa.
Os ródulos são a pior parte. M.I., mãe de uma menina de 10 anos com dislexia (ela prefere não se identificar para não expor a filha), conta que o primeiro ano da filha na escola foi um inferno. "Ela não conseguia aprender e chorava, dizendo que era burra, cada vez que tinha uma prova", conta.
A mãe identificou o problema quando a menina ainda estava na pré-escola. Ela não conseguia coordenar as sílabas em uma palavra, mesmo sabendo o alfabeto. Muito menos conseguia formar palavras. A coordenadora da escola sugeriu à família que procurase uma fonoaudióloga. Na primeira consulta o diagnóstico foi confirmado.
Foram um ano e meio de consultas semanais e trabalhos com uma especialista em psicomotricidade, mais três de aulas particulares. Hoje, a menina está na 4ª série e nunca repetiu o ano. "Ela é lenta, mas tem boas notas. Não é melhor nem pior que a média dos colegas", conta a mãe.
TRATAMENTOS
Reconhecer os sintomas é o primeiro passo para poupar o disléxico de anos de dificuldades e até mesmo do desinteresse pela escola. hoje, com tratamentos pedagógicos, psicomotores e acompanhamento escolar, uma criança com dislexia pode chegar à faculdade sem problemas, mesmo que mais lentamente.
Os exercícios lidam, principalmente, com a parte motora e o desenvolvimento da atenção. A criança precisa aprender a diferenciar entre o correto e a forma que ela está escrevendo. Não que seja tarefa fácil. "Em casos mais graves a pessoa não vai conseguir aprender nunca a ler", afirma o médico Schwartzmann. São os chamados cegos verbais - pessoas para o qual uma palavra escrita faz tanto sentido quanto os hieróglifos egípcios. Tais casos, no entanto, são raros. A dislexia atinge entre 3 e 6% das pessoas.
Mas mesmo as formas mais leves exigem dedicação especial da família. A psicóloga Selma Nazaré explica que a pior coisa para um disléxico é a cobrança constante por melhores resultados, a comparação com outras crianças e a sensação de que nada que ela faz dá certo. "Dê tempo ao tempo", recomenda ela. "A criança disléxica aprende em tempo e de forma diferente."
Os primeiros passos, depois de identificar os sinais da dislexia, é encaminhar a criança para uma avaliação com uma fonoaudióloga. Se o diagnóstico foi confirmado, a criança terá que fazer um acompanhamento semanal, além das aulas normais.
O trabalho vai ajudá-la tanto a se localizar no espaço quanto a segurar o lápis e aprender a diferenciar os sons de letras como p e q. Até mesmo a auto-estima baixa - um dos principais efeitos colaterais do problema - é trabalhada. O tratamento não tem um tempo fixo. Pode levar um ou vários anos, dependendo apenas do grau de dislexia.
Mas pode-se aprender tão bem - ou melhor - quanto qualquer outro. Einstein só aprendeu a ler aos nove anos, mas a teoria da relatividade formulada por ele revolucionou o mundo. Thomas Edison teve que ser ensinado por sua mãe em casa, porque seus professores achavam que era deficiente mental.
Mas, graças à sua lâmpada elétrica, hoje o mundo pode ler à noite.


Dislexia: Definição e classificação exatas do distúrbio
Por: Dra. Lou de Olivier
Ultimamente tenho ouvido e/ou lido tantos absurdos, tantas colocações mentirosas ou, no mínimo, dúbias sobre a Dislexia que me forçam a novamente escrever sobre isso. Nesta matéria, mais uma vez, tento esclarecer a Dislexia e desmentir tantas inverdades que estão por ai.

Antes de mais nada, é preciso entender que a Dislexia, assim como vários outros distúrbios de aprendizagem, existe em vários níveis, ou seja: Não tem um só tipo, como se insiste em publicar. Após mais de vinte anos pesquisando este e assuntos correlatos, posso afirmar que existem, no mínimo, três tipos de Dislexia:
1. Dislexia Congênita ou Inata: É a Dislexia que nasce com o indivíduo.
Pode ter as mais variadas causas e tem características próprias como por exemplo, uma comprovada alteração hemisférica cerebral, onde os hemisférios encontram-se com tamanhos invertidos ou em tamanhos exatamente iguais, quando o considerado normal é que o esquerdo seja maior que o direito. Em conseqüência desta alteração, o indivíduo disléxico tem pouca ou nenhuma habilidade para a aquisição de leitura/escrita, geralmente não chega a ser alfabetizado e, quando o é, não consegue ler/escrever por muito tempo e, quando termina de ler/escrever já não se lembra de nada. Este tipo de Dislexia é incurável, deve ser tratada por uma junta de profissionais, o que chamamos de Tratamento Multidisciplinar, envolvendo sempre Psicopedagogo, Neurologista e/ou Psiquiatra, dependendo da gravidade do caso. Em casos onde haja também distúrbios de fala/audição, um Fonoaudiólogo, caso haja dificuldades motoras e/ou de lateralidade, um Psicomotricista e, neste caso, também é aconselhável que um Psicólogo acompanhe o tratamento e desenvolva atendimento paralelo. Costumo aconselhar que este indivíduo tenha também a orientação de um Arteterapeuta, pois devido à alteração hemisférica, muito provavelmente, este disléxico tenha muitas habilidades artísticas que, se estimuladas, poderão coloca-lo no mercado de trabalho como um grande artista ( em várias áreas ), o que já passa a ser um ótimo caminho e uma esperança de futuro promissor, já que nem só de leitura/escrita vive o ser humano. Isto evita até a posição desagradável que algumas entidades costumam colocar tentando mudar o sistema para adaptá-lo aos indivíduos com algum distúrbio de aprendizagem. Concordo que os deficientes físicos, por exemplo, precisem de rampas e outras adaptações para exercer seu direito de ir e vir, trabalhar, etc. Mas o disléxico não apresenta nenhuma limitação que justifique adaptar o sistema existente a ele. Não há necessidade de que todos tenham cargos que ocupem escrita/leitura. É possível o disléxico sobressair-se muito em Artes/Esportes e é este o caminho mais acertado a seguir.
2. Dislexia Adquirida: É a Dislexia que vem através de um acidente qualquer.
Como exemplo, temos "Anoxia Perinatal", "Anoxia" por afogamento, ( obs: Anoxia é falta de oxigenação no cérebro ), Acidente Vascular Cerebral ( o popular derrame ) e outros acidentes/distúrbios que podem causar uma Dislexia Adquirida. Neste caso, o indivíduo que antes lia e escrevia normalmente, passa a ter períodos/fases de Dislexia. Nestes períodos, ele não consegue ler/escrever ou o faz com muita dificuldade, tem falhas de memória e pode também apresentar problemas de lateralidade. Dependendo do grau de dificuldade que o indivíduo apresente é também necessário um Tratamento Multidisciplinar, mas neste caso, é bem provável que somente o Psicopedagogo e o Neuro ou Psiquiatra sejam solicitados. Caso o acidente tenha afetado também a lateralidade, um Psicomotricista será necessário. Se a fala/audição estiver comprometida, também o Fono e, assim por diante. Neste caso, se o indivíduo já tinha uma profissão, deverá apenas adaptar-se para enfrentar os períodos em que "estiver disléxico" e seguir seu tratamento, podendo obter cura ou boa melhora, já que sua dislexia não envolve alterações hemisféricas.
3. Dislexia ocasional: É a Dislexia causada por fatores externos e que aparece ocasionalmente.
Pode ser causada por esgotamento do Sistema Nervoso/estresse, excesso de atividades, e, em alguns casos considerados raros por TPM e/ou hipertensão. Se este tipo de Dislexia for diagnosticado, não há a necessidade de grandes tratamentos. Apenas repouso, talvez umas boas férias, uma mudança de horários/rotina e tudo voltará ao normal.
4. Existe também uma espécie de quarto tipo que classifico como características disléxicas.
É quando o indivíduo tem algumas características consideradas próprias da Dislexia, mas que isoladas nada significam ou podem ser causadas por outros distúrbios, às vezes bem mais simples de curar como o Rotacismo, por exemplo. É nestes casos que os maus profissionais acabam se confundindo ou até mesmo de propósito acabam diagnosticando como dislexia um distúrbio que provavelmente se cure até sozinho.


Dentro destes tipos existem variações que parecem tornar cada caso um caso, cada disléxico, único. Portanto não dá mais para admitir generalizações.

E, finalizando esta colocação, é preciso parar definitivamente de imaginar que a Dislexia faça trocar letras. O que acontece com o disléxico é que, na maioria dos casos, ele não identifica sinais gráficos/letras ou qualquer código que caracterize um texto. Portanto ele não troca letras porque seu cérebro sequer identifica o que seja letra. Se inverte letras/sílabas é simplesmente por nem saber o que são e não como se insiste em divulgar porque "troque letras". Existem muitos distúrbios que fazem realmente trocar letras que, em outra oportunidade, poderei esclarecer.

É aconselhável que o disléxico, seja de que tipo for, pratique esportes que também desenvolverão sua coordenação motora, raciocínio, agilidade, etc. Um dos melhores é a natação, em segundo lugar vêm os esportes com bola ( futebol, vôlei, etc. )
Dra. Lou de Olivier
Maiores informações sobre a Dra. Lou de Olivier, clique sobre seu nome.
21/11/2002 - 08h32

Dislexia afeta leitura, escrita e auto-estima

JULIANA DORETTO
free-lance para a Folha

"Eu queria voltar para a pré-escola." Foi assim que a assessora de comunicação Maria Eugênia Ianhez, 34, reagiu quando descobriu, aos 27 anos, que sofria de dislexia, distúrbio que provoca dificuldades na leitura e na escrita. "Sei que tudo seria diferente. Não passaria pelos constrangimentos que vivi porque saberia como enfrentar minhas limitações."

A dislexia manifesta-se durante a alfabetização, mas nem sempre as escolas conseguem detectar os sintomas do distúrbio. Resultado: assim como Maria Eugênia, milhares de pessoas passam a infância e a adolescência sem conseguir ler um livro até o fim. Pior: sem saber por que isso acontece ou atribuindo a dificuldade à incapacidade intelectual. "O colégio era ruim em todos os momentos, porque eu achava que meu Q.I. era inferior ao normal", lembra Maria Eugênia.

O disléxico tem dificuldade para correlacionar sons e sinais gráficos, o que afeta a alfabetização. Não se sabe o que causa a dislexia, mas já foi constatado que esse distúrbio mental -que não deve ser confundido com uma doença- é hereditário e congênito. A incidência difere de acordo com o sexo: para cada três homens disléxicos, há só uma mulher.

"No disléxico, a 'idade' de leitura pode ser até dois anos inferior à idade cronológica", explica Mauro Muszkat, neurologista infantil da Unifesp. Esse déficit se traduz em dificuldade e demora para ler e em letra ruim e erros ortográficos ao escrever: omissão e troca de letras -como "b" por "d" e "m" por "n" (por terem grafias parecidas) ou "s" por "z" e "p" por "b" (pelo som semelhante)- e espelhamento (escrever "los" em vez de "sol"), por exemplo.

Muitas vezes, pais e filhos descobrem simultaneamente que sofrem de dislexia. João Alberto Ianhez, 63, pai de Maria Eugênia, só conseguiu entender suas dificuldades e as da filha quando ele já estava com 50 anos. "Sentia que eu era diferente dos outros, mas não sabia por quê. Na infância, a dificuldade era motivo de gozação e isso provocava retração e timidez", diz. A causa desses problemas foi identificada quando ele fez um trabalho voluntário para a ABD (Associação Brasileira de Dislexia).

Em alguns casos, o alerta parte da escola do filho. Quando Felipe Alberto tinha 11 anos, a coordenação pedagógica do colégio onde ele estudava orientou sua mãe, Rosemari Marquetti de Mello, 41, fotógrafa, a procurar a ABD. Conversando com as psicólogas da associação, ela percebeu que apresentava as mesmas dificuldades de leitura e escrita do filho. A partir do diagnóstico, Rosemari procurou incentivá-lo a fazer atividades que lhe proporcionassem prazer e aumentassem sua auto-estima.

Felipe, hoje com 16 anos, tem uma banda de rock e toca bateria, guitarra, violão e cavaquinho. "A maior dificuldade do disléxico não é não conseguir ler e escrever, e sim a auto-estima rebaixada", afirma Rosemari.

Não há cura para a dislexia, mas o distúrbio pode ser tratado com a ajuda de fonoaudiólogos e psicoterapeutas. "O tratamento fará com que a pessoa aprenda estratégias para ler mais rapidamente e com prazer", afirma Mauro Spinelli, foniatra (especialista em problemas da linguagem oral e escrita) da PUC-SP.

Luis Celso Vilanova, chefe do setor de neurologia da Unifesp, explica que é feito um trabalho de reabilitação. Os especialistas corrigem as dificuldades ortográficas e oferecem outras opções de alfabetização para que a pessoa possa ler e escrever normalmente.

Mas, mesmo sem acompanhamento, o disléxico pode criar estratégias para driblar o problema da aprendizagem -usando os sentidos da audição, visão e tato, afirma Vilanova. E, na vida adulta, ele pode escolher profissões em que a escrita não seja muito importante.

O cirurgião-dentista Adriano van Helden, 37, conseguiu terminar a faculdade usando recursos que ele mesmo desenvolveu. "Eu não conseguia estudar em casa porque tinha de ler o mesmo parágrafo quatro ou cinco vezes para entendê-lo", lembra. Depois de quase desistir do curso, ele descobriu uma saída: "Comecei a repetir em casa, exaustivamente, todos os procedimentos que aprendia nas aulas".

Van Helden não sabia que a causa de suas dificuldades era a dislexia. Ele só descobriu que tem o distúrbio há seis meses, quando seu filho de dez anos foi diagnosticado como disléxico. "Percebi que o que ocorre com o meu filho também acontece comigo."

Segundo a Associação Internacional de Dislexia, o problema afeta de 10% a 15% da população mundial. Os especialistas brasileiros, porém, são mais cautelosos com os números. Mauro Muszkat, da Unifesp, acredita que apenas cerca de 5% da população, em fase escolar, sofra do distúrbio. Já o foniatra Mauro Spinelli estima que esse percentual não seja superior a 1%. Para ele, percentuais maiores são gerados por avaliações menos cuidadosas, que não levam em conta problemas emocionais, auditivos e visuais que também podem gerar dificuldades na alfabetização.

Para excluir esses outros fatores, o diagnóstico deve envolver uma equipe multidisciplinar -fonoaudiólogo, psicopedagogo, pediatra, neurologista e psicólogo. A avaliação só pode ser feita após os sete anos, fase em que a criança começa a se alfabetizar e já está madura neurologicamente. Mas, antes disso, na pré-escola, os pais já podem ficar atentos, principalmente se um deles é disléxico: há sinais que indicam se a criança tem propensão a desenvolver o distúrbio.

Onde: Associação Brasileira de Dislexia: tels. 0xx/11/3258-7568, 0/xx/11/ 3258-8267 e 0/xx/11/3231-3296;


Dislexia não é emocional
Psicóloga diz que trocar letras é coisa do cérebro

São Paulo - Ao contrário do que se pensa, a dislexia - dificuldade de processamento da linguagem que se apresenta na forma de troca de letras ao se escrever e falar e na compreensão do que se lê - não se deve a causas emocionais. Segundo a psicóloga, fonoaudióloga e pedagoga inglesa Beve Hornsby, ficou demonstrado através de pesquisas que essas dificuldades encontradas em muitas crianças estão ligadas a características cerebrais.
Hornsby, que fez sua tese de doutorado em dislexia e possui um centro para treinamento de professores e de tratamento de crianças disléxicas, veio a São Paulo para uma série de palestras com professores e pais de alunos de escolas de língua inglesa.
"Diagnosticada cedo e com um ensino especializado, a dislexia pode ser superada na vida adulta, sem afetar a carreira do indivíduo", afirma Hornsby. Segundo ela, várias teorias tentam explicar o problema, como a da causa genética que, segundo pesquisadores americanos, é responsável por 80% dos casos. Alguns especialistas sugerem que a causa é um defeito no cromossomo número 15, enquanto outros sugerem ser a dislexia provocada pelos hormônios masculinos, já que, em cada grupo de cinco crianças disléxicas, quatro são meninos. "Mas o importante é saber que as crianças disléxicas, muitas vezes consideradas preguiçosas, têm inteligência e são ativas em outras áreas", ressalta a especialista. Para exemplificar, ela cita disléxicos famosos como o físico Albert Einstein, autor da teoria da relatividade, e Thomas Edison, inventor, entre outras coisas, da lâmpada elétrica.
Para tratar a dislexia, que na Inglaterra atinge 10% das crianças e nos EUA 25%, Hornsby acentua a necessidade de um bom diagnóstico - comparando-se, através de um teste, o quociente de inteligência (QI) de uma criança e sua performance no aprendizado - e um médoto adequado de ensino.
"As crianças precisam de regras de escrita, não podem aprender uma palavra inteira" diz ela. Em seu livro "Alpha to Omega - The A-Z Teaching Programme (De alfa a ômega - Programa de ensino de A a Z), Hornsby propõe um método de alfabelização com abordagem multissensorial. Além de ver as letras e ouvir seus respectivos sons, as crianças pegam em letras feitas de madeira e cartões.
"No Brasil, há muita desinformação sobre a dislexia entre os professores, fonoaudiólogos e psicólogos e não existe uma pesquisa que possibilite levantamento dos dados", afirma Eliane Rosenberg Colorni, vice-presidente da Associação Brasileira de Dislexia (ABD), fundada há quatro anos, com sede em São Paulo. Segundo ela, "não interessa o que se chama, o fato é que existe uma infinidade de crianças que fracassam na escola, apesar de serem inteligentes", comenta. Para ela, este problema não tem relação com a escola brasileira. "A criança que não tem dificuldade passa por qualquer método de ensino, mesmo que seja ruim", diz. "O que é preciso saber é qual o método melhor para a criança disléxica", completa. Por isso, a ABD criou, em fevereiro, um centro de diagnóstico que levanta o problema da criança e indica a escola que deve freqüentar. A associação elaborou um método de alfabetização, ainda em fase de experiência em algumas crianças, que, no início do ano que vem, deverá estar revisto e pronto para ser aplicado a todas as crianças disléxicas.

Em relação ao artigo acima, Dislexia não é emocional, nós da Editora Primeira Impressão informamos: O Método Iracema Meireles atende a todas as necessidades do disléxico, enquanto aluno. Nós também trabalhamos de forma multissensorial e usamos letras em cartão ou madeira. Trabalhando intensamente as áreas cognitiva, sensorial, psicológica e social de forma lúdica e criativa, o nosso método tem sido decisivo na alfabetização de disléxicos. Para conhecê-lo em detalhes procure uma de nossas credenciadas ou faça o curso à distância.
Na leitura e/ ou na escrita:

- possíveis confusões

(ex: f/v; p/b; ch/j; p/t; v/z ; b/d...)

- possíveis inversões;

(ex: ai/ia; per/pré; fla/fal;

cubido/bicudo...)

- possíveis omissões:

(ex: livo/livro; batata/bata...)


Respostas urgentes a implementar:

- Criação de estruturas de despiste e reeducação precoces.
- Consultas multidisciplinares para avaliação compreensiva de casos.
- Formação de professores numa pedagogia específica.
- Meios de informação sobre estruturas de apoio a alunos com dislexia.

Problemas de Aprendizagem relacionados:

- Dificuldades na linguagem oral;
- Não associação de símbolos gráficos com as suas componentes auditivas;
- Dificuldades em seguir orientações e instruções;
- Dif. de memorização auditiva;
- Problemas de atenção;
- Problemas de lateralidade;


Pré-escola:
Fique alerta se a criança apresentar alguns desses sintomas:
. Imaturidade no trato com outras crianças.

. Fraco desenvolvimento da atenção.

. Atraso no desenvolvimento da fala e da linguagem.

. Atraso no desenvolvimento visual.

. Dificuldade em aprender rimas e canções.

. Fraco desenvolvimento da coordenação motora.

. Dificuldade com quebra-cabeças.

. Falta de interesse por livros impressos.
O fato de apresentar alguns desses sintomas não indica necessariamente que ela seja disléxica; há outros fatores a serem observados. Porém, com certeza estaremos diante de um quadro que pede uma maior atenção e/ou estimulação.
Idade escolar
Nesta fase, se a criança continua apresentando alguns ou vários dos sintomas a seguir, é necessário um diagnóstico e acompanhamento adequado, para que possa prosseguir seus estudos junto com os demais colegas e não tenha prejuízos emocionais:
. Dificuldade na aquisição e automação da leitura e escrita.

. Pobre conhecimento de rima (sons iguais no final das palavras) e aliteração (sons iguais no início das palavras).

. Desatenção e dispersão.

. Dificuldade em copiar de livros ou da lousa.

. Dificuldade na coordenação motora fina (desenhos, pintura, etc.) e/ou grossa (ginástica, dança, etc.).

. Desorganização geral, podemos citar os constantes atrasos na entrega de trabalhos escolares.

. Dificuldades visuais, como por exemplo, podemos, perceber com certo impacto, a desordem dos trabalhos no papel e a própria postura da cabeça ao escrever.

. Confusão entre direita e esquerda.

. Dificuldade em manusear mapas, dicionários, listas telefônicas, etc..

. Vocabulário pobre, com sentenças curtas e imaturas ou sentenças longas e vagas.

. Dificuldade na memória de curto prazo, como instruções, recados, etc..

. Dificuldade em decorar seqüências, como meses do ano, alfabeto, etc..

. Dificuldade na matemática e desenho geométrico.

. Problemas de conduta como: retração, timidez excessiva, depressão, e menos comum, mas também possível, tornar-se o "palhaço" da turma.

. Grande desempenho em provas orais.
Se nessa fase a criança não for acompanhada adequadamente, os sintomas persistirão e irão permear a fase adulta, com possíveis prejuízos emocionais, além de sociais e laborais.
Adulto
Se não teve um acompanhamento adequado na fase escolar, ou se possível pré-escolar, o adulto disléxico ainda apresentará dificuldades:

. Continuada dificuldade na leitura e escrita.

. Dificuldade para soletrar.

. Memória imediata prejudicada.

. Dificuldade em nomear objetos e pessoas (disnomia).

. Dificuldade com direita e esquerda.

. Dificuldade em aprender uma Segunda língua.

. Dificuldade em organização geral.

. Comprometimento emocional.
Diagnóstico
Os sintomas que podem indicar a dislexia, antes de um diagnostico multidisciplinar, só indicam um distúrbio de aprendizagem, não confirmam a dislexia. E não para por aí, os mesmos sintomas podem indicar outras situações, como lesões, síndromes, etc.
Então, como diagnosticar a dislexia?
Identificado o problema de rendimento escolar ou sintomas isolados, que podem ser percebidos na escola ou mesmo em casa, deve se procurar ajuda especializada.
Uma equipe multidisciplinar, formada por psicóloga, fonoaudióloga e psicopedagoga clínica deve iniciar uma minuciosa investigação. Essa mesma equipe deve ainda garantir uma maior abrangência do processo de avaliação, verificando a necessidade do parecer de outros profissionais, como neurologista, oftalmologista e outros, conforme o caso.
A equipe de profissionais deve verificar todas as possibilidades antes de confirmar ou descartar o diagnóstico de dislexia. É o que chamamos de Avaliação Multidisciplinar e de Exclusão.
Outros fatores deverão ser descartados, como déficit intelectual, disfunções ou deficiências auditivas e visuais, lesões cerebrais (congênitas ou adquiridas), desordens afetivas anteriores ao processo de fracasso escolar (com os constantes fracassos escolares o disléxico irá apresentar prejuízos emocionais, mas estes são conseqüência, não causa da dislexia), e outros distúrbios de aprendizagem, como: o déficit de atenção, a hiperatividade (ambos podem ocorrer juntas, é o DAAH - Déficit e Atenção e Aprendizagem com Hiperatividade; lembrando que a hiperatividade também pode ocorrer em conjunto com a dislexia).
Neste processo ainda é muito importante: tomar o parecer da escola, dos pais e levantar o histórico familiar e de evolução do paciente.
Essa avaliação não só identifica as causas das dificuldades apresentadas, assim como permite um encaminhamento adequado a cada caso, através de um relatório por escrito.
No caso da dislexia, o encaminhamento orienta o acompanhamento consoante as particularidades de cada caso, o que permite que este seja mais eficaz e mais proveitoso, pois o profissional que assumir o caso não precisará daquele tempo, (muitas vezes indeterminado) para identificação do problema, bem como terá ainda acesso a pareceres importantes para o caso. Conhecendo as causas das dificuldades e os potenciais do indivíduo, o profissional pode utilizar a linha que achar mais conveniente. Os resultados irão aparecer de forma consistente e progressiva. O acompanhamento profissional dura de dois a cinco anos, dependendo do caso.
Ao contrário de que muitos pensam, o disléxico sempre contorna suas dificuldades. Ele responde muito bem a tudo que passa para o concreto. Tudo que envolve os sentidos é mais facilmente absorvido. O disléxico também tem sua própria lógica, sendo muito importante o bom entrosamento entre profissional e paciente.
Outro passo importante a ser dado é definir um programa em etapas, e somente passar para a seguinte , após confirmar que a anterior foi devidamente absorvida e sempre retomando as etapas anteriores. É o que chamamos de sistema Multissensorial e Cumulativo.
Também é de extrema importância haver uma boa troca de informações, experiências e até sintonia dos procedimentos executados, entre profissional, escola e família.
Lembre-se sempre que a ABD é Seu Ponto de Apoio.
Adulto
Se não teve um acompanhamento adequado na fase escolar, ou se possível pré-escolar, o adulto disléxico ainda apresentará dificuldades:

. Continuada dificuldade na leitura e escrita.

. Dificuldade para soletrar.

. Memória imediata prejudicada.

. Dificuldade em nomear objetos e pessoas (disnomia).

. Dificuldade com direita e esquerda.

. Dificuldade em aprender uma Segunda língua.

. Dificuldade em organização geral.

. Comprometimento emocional.
A Dislexia em Sala de Aula
VICENTE MARTINS
E-mail: vicente.martins@uol.com.br
Sumário
1. Conceito de leitura
2. As funções essenciais da leitura
3. Os processos da capacidade leitora
4. Fatores que influenciam a dislexia
5. A dislexia como fracasso inesperado
6. Bibliografia e webliografia básicas
Resumo: Este texto tem por fim indicar os fatores que influenciam, na educação escolar, aparição da dislexia como dificuldade inesperada do aprendizado da leitura
Palavras-chaves: dislexia – leitura – Psicolingüística - fonologia

1. CONCEITO DE LEITURA
São quatro as habilidades da linguagem verbal: a leitura, a escrita, a fala e a escuta. Destas, a leitura é a habilidade lingüística mais difícil e complexa. A leitura é dos um processo de aquisição da lectoescrita e, como tal, compreende duas operações fundamentais: a decodificação e a compreensão.
A decodificação é a capacidade que temos como escritores ou leitores ou aprendentes de uma língua para identificarmos um signo gráfico por um nome ou por um som. Esta capacidade ou competência lingüística consiste no reconhecimento das letras ou signos gráficos e na tradução dos signos gráficos para a linguagem oral ou para outro sistema de signo.
A aprendizagem da decodificação se consegue através do conhecimento do alfabeto e da leitura oral ou transcrição de um texto. Conhecer o alfabeto não significa apenas o reconhecimento das letras, e sim, entendermos a evolução da escrita como: a) a pictográfica (desenho figurativo), a ideográfica (representação de idéias sem indicação dos sons das palavras) e a fonográfica (representação dos sons das palavras). Toda palavra tem uma origem, uma motivação e, a rigor, não é absolutamente arbitrária como quis Ferdinand de Saussure, em seu Curso de Lingüística geral.
O agá, por exemplo, nas línguas neolatinas, como o português, o espanhol, o italiano e o francês, pode indicar um fonema mudo, mas traduz, por sua vez, uma origem semítica heth. O grego, por exemplo, usou a letra h para representar a vogal longa eta. Por isso, toda palavra, em português, iniciada pela letra h (hoje, homem, história etc), é de origem grega.
A compreensão é a captação do sentido ou conteúdo das mensagens escritas. Sua aprendizagem se dá através do domínio progressivo de textos escritos cada vez mais complexos (ALLIENDE: 1987, p.27)
2. AS FUNÇÕES ESSENCIAIS DA LEITURA
São três os verbos que definem as funções essenciais da leitura: a)transformar, b) compreender e c) julgar.
Transformar, em leitura, se dá quando o leitor converte a linguagem escrita em linguagem oral.
Compreender se efetiva quando o leitor consegue captar ou dá sentido ao conteúdo da mensagem.
Julgar é capacidade que o leitor tem de analisar o valor da mensagem no contexto social.
3. OS PROCESSOS DA CAPACIDADE LEITORA
O enfoque da Psicolingüística, ramo interdisciplinar da Psicologia Cognitiva e da Lingüística Aplicada, considera a leitura como uma habilidade complexa, na qual intervém uma série de processos cognitivo-lingüísticos de distintos níveis, cujo início é um estímulo visual e cujo final deve ser a decodificação do mesmo e sua compreensão. Refiro-me aos processos básicos e superiores da habilidade leitora.
Os processos básicos da leitura são também chamados de “processos de nível inferior”. Sua finalidade é o reconhecimento e a compreensão das palavras. Dentro destes se encontram a decodificação e a compreensão de palavras.
Os processos superiores ou de nível superior têm por finalidade a compreensão de textos.
Os dois processos, isto é, os básicos e os superiores, devem ser considerados no ensino do português e na aprendizagem da lectoescrita uma vez que funcionam de modo interativo ou interdependente.
Os processos básicos, isto é, que se voltam à decodificação e à compreensão de palavras, são particularmente importantes nas primeiras etapas da aprendizagem da leitura (ou leitura inicial na educação infantil) e devem ser automatizados ou bem assimilados no primeiro ciclo do ensino fundamental (até a quarta série), já que um déficit em algum deles atua como um nó de gravata que impede o desenvolvimento dos processos superiores de compreensão leitora.
Processos preceptivos - O leitor atinge a decodificação através dos processos perceptivos e dos processos léxicos. Os processos perceptivos referem-se à percepção visual.
A percepção visual permite a extração de informações sobre cosias, lugares e eventos do mundo visível. Portanto, a percepção é um processo para aquisição de informações e conhecimentos, guardando estreita relação com a memória de longo prazo (MLP) e a cognição.
A percepção é uma das primeiras atividades que tomam parte do processo leitor e a forma mais específica da percepção visual. Aprendemos a ler com o poder do olhar.
Ao nos engajarmos na leitura, fixamos, inicialmente, nossa olhada nos símbolos impressos, isto é, nas palavras e nos seus grafemas, e se não analisamos em profundidade o que realmente ocorre pode parecer-nos que os olhos percebem as palavras de uma linha ou de um texto de forma contínua. Ler, a rigor, não é apenas ler as palavras nas linhas, na sua dimensão linear sintagmática, mas ler as entrelinhas, o subjacente, o paradigmático, o ausente, o dito não explícito no texto.
Essa operação visual se dá assim: os olhos se movimentam da esquerda para direita mediante uns saltos rápidos denominados “movimentos oculares sacádicos”. No percurso da leitura, vamos alternando fixações e movimentos sacádicos e somente podemos ler e compreender o que lemos nos períodos em que nos fixamos, em cerca de um quarto de segundo (com a faixa média sendo de cerca de 150-500ms com uma média de 200-250 ms) nos olhos no texto. (ELLIS: 1995, p.17).
A duração e amplitude das fixações e a direção dos movimentos sacádicos não variam arbitrariamente, e sim, dependem de: a) as características do texto, b) a maturidade dos processos cognitivos do leitor, c) a visão, d) a fadiga ocular, e) a iluminação, f) a distância olho-texto, g) a postura do corpo e h) o tipo de letra e papel.
Processos léxicos – Depois da análise perceptiva, o passo seguinte é chegarmos ao significado das palavras que, no ensino da língua materna, é, realmente, o que interessa aos professores, à escola e à família e aos próprios alunos. Se nosso objetivo é também a leitura em voz alta, então, devemos trabalhar a soletração, a entonação ou a pronúncia escorreita das palavras.
Dois são os caminhos que existem para chegarmos ao reconhecimento das palavras e extrairmos o significado das mesmas. Falaremos pois de duas rotas que nos ajudam no reconhecimento das palavras: a) a fonológica ou indireta ou também chamada via indireta (VI) e b) a rota visual ou léxica ou via direta (VD).
A rota fonológica - A rota fonológica é a que a nos permite a leitura de textos, segmentando-os, por força da metalinguagem, em seus componentes (parágrafos, períodos, orações, frases, sintagmas, palavras, morfemas), como também em sílabas ou em sons da fala (fonemas).
Baseia-se a rota fonológica na segmentação fonológica das palavras escritas, por meio da qual o leitor tem a alcança a chamada consciência fonológica. A rota fonológica é o guia prático para o alfabetizador que trabalha, em sala de aula, com o chamado método fônico de leitura.
A rota fonológica consiste em descriminar os sons correspondentes a cada uma das letras ou grafemas que compõem a palavra. Esta rota permite, na realidade, o reconhecer das letras das palavras e sua transformação em sons. Através desta via, portanto, podemos, como leitores hábeis, ler palavras pouco freqüentes (por exemplo, pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico, a maior palavra na língua portuguesa), desconhecidas e inclusive as pseudopalavras (MARTINS: 2002).
A rota fonológica é a via, pois, para se atingir a consciência fonológica, através da qual se pode ler todas as palavras em língua portuguesa, já que nosso idioma neolatino é alfabético e transparente, isto é, não tem palavras, a rigor, irregulares, impossíveis de serem lidas (exceto os estrangeirismos)
Podemos, enfim, resumir os objetivos da via fonológica no processo de aquisição da leitura:
- Identificar as letras através da análise visual
- Recuperar os sons mediante a consciência fonológica
- Pronunciar os sons da fala fazendo uso do léxico auditivo
- Chegar ao significado de cada palavra no léxico interno (vocabulário)
A via fonológica é mais lenta que a via direta já que o processo requerido é muito mais extenso até chegarmos a reconhecer a palavra, no entanto, não é menos importante e, inclusive, podemos afirmar que os estágios iniciais da aprendizagem da leitura dependem da consciência fonológica.
A rota visual ou direta ou léxica - É uma rota global e muito rápida já que nos permite o reconhecimento global da palavra e sua pronunciação imediata sem necessidade de analisar os signos ( significante e significado) que a compõem.
Os passos que temos na leitura de palavras através da via direta são:
- Analisar globalmente a palavra escrita: análise visual
- Ativar as notações léxicas
- Chegar ao significado no léxico interno (vocabulário)
- Recuperar a pronunciação no caso de leitura em voz alta
O modelo de leitura através da rota direta permite explicar a facilidade que temos para reconhecer as palavras cuja imagem visual temos visto com muita freqüência. Isto é, através desta rota podemos ler palavras que nos são familiares a nível de escrita. A rota direta é base para a prática do método global de leitura (também chamado construtivista)
Em qualquer caso, ambas as vias não são excludentes entre si As rotas fonológica e global são necessárias e coexistem na leitura hábil. À medida que a habilidade leitora se desenvolve, intensificamos as estratégias da via direta ou léxica ou ambas ao mesmo tempo.
4. FATORES QUE INFLUENCIAM A DISLEXIA
Os padrões de movimentos oculares são fundamentais para a leitura eficiente.
São as fixações nos movimentos oculares que garantem que o leitor possa extrair informações visuais do texto. No entanto, algumas palavras são fixadas por um tempo maior que outras.
Por que isso ocorre? Existiriam assim fatores que influenciam ou determinam ou afetam a facilidade ou dificuldade do reconhecimento de palavras, a saber: a) familiaridade, b) freqüência, c0 idade da aquisição, d) repetição, e) significado e contexto, f) Regularidade de correspondência entre ortografia-som ou grafema-fonema e g) Interações. (ELLIS: 1995, p.19-28)
5. A DISLEXIA COMO FRACASSO INESPERADO
A dislexia, segundo Jean Dubois et alii (1993, p.197), é um defeito de aprendizagem da leitura caracterizado por dificuldades na correspondência entre símbolos gráficos, às vezes mal reconhecidos, e fonemas, muitas vezes, mal identificados.
A dislexia, segundo o lingüista, interessa de modo preponderante tanto à discriminação fonética quanto ao reconhecimento dos signos gráficos ou à transformação dos signos escritos em signos verbais.
A dislexia, para a Lingüística, assim, não é uma doença, mas um fracasso inesperado (defeito) na aprendizagem da leitura, sendo, pois, uma síndrome de origem lingüística.
As causas ou a etiologia da síndrome disléxica são de diversas ordens e dependem do enfoque ou análise do investigador. Aqui, tendemos a nos apoiar em aportes da análise lingüística e cognitiva ou simplesmente da Psicolingüística.
Muitas das causas da dislexia resultam de estudos comparativos entre disléxicos e bons leitores. Podemos indicar as seguintes: a) Hipótese de déficit perceptivo, b) Hipótese de déficit fonológico e c) Hipótese de déficit na memória.
Atualmente os investigadores na área de Psicolingüística aplicada à educação escolar, apresentam a hipótese de déficit fonológico como a que justificaria, por exemplo, o aparecimento de disléxicos com confusão espacial e articulatória.
Desse modo, são considerados sintomas da dislexia relativos à leitura e escrita os seguintes erros:
a) erros por confusões na proximidade especial: a) confusão de letras simétricas, b) confusão por rotação e c) inversão de sílabas
b) Confusões por proximidade articulatória e seqüelas de distúrbios de fala: a) confusões por proximidade articulatória, b) omissões de grafemas e c) omissões de sílabas.
As características lingüísticas, envolvendo as habilidades de leitura e escrita, mais marcantes das crianças disléxicas, são:
A acumulação e persistência de seus erros de soletração ao ler e de ortografia ao escrever
Confusão entre letras, sílabas ou palavras com diferenças sutis de grafia: a-o; c-o; e-c; f-t; h-n; i-j; m-n; v-u etc
Confusão entre letras, sílabas ou palavras com grafia similar, mas com diferente orientação no espaço: b-d; b-p; d-b; d-p; d-q; n-u; w-m; a-e
Confusão entre letras que possuem um ponto de articulação comum, e, cujos sons são acusticamente próximos: d-t; j-x;c-g;m-b-p; v-f
Inversões parciais ou totais de silabas ou palavras: me-em; sol-los; som-mos; sal-las; pal-pla
Segundo Mabel Condemarín (1987, p.23), outras perturbações da aprendizagem podem acompanhar os disléxicos,:
Alterações na memória
Alterações na memória de séries e seqüências
Orientação direita-esquerda
Linguagem escrita
Dificuldades em matemática
Confusão com relação às tarefas escolares
Pobreza de vocabulário
Escassez de conhecimentos prévios (memória de longo prazo)
Agora, uma pergunta pode advir: Quais as causas ou fatores de ordem pedagógico-lingüística que favorecem a aparição das dislexias?
De modo geral, indicaremos causas de ordem pedagógica, a começar por:
Atuação de docente não qualificado para o ensino da língua materna (por exemplo, um professor ou professora sem formação superior na área de magistério escolar ou sem formação pedagógica, em nível médio, que desconheça a fonologia aplicada à alfabetização ou conhecimentos lingüísticos e metalingüísticos aplicados aos processos de leitura e escrita)
Crianças com tendência à inversão
Crianças com deficiência de memória de curto prazo
Crianças com dificuldades na discriminação de fonemas (vogais e consoantes)
Vocabulário pobre
Alterações na relação figura-fundo
Conflitos emocionais
O meio social
As crianças com dislalia
Crianças com lesão cerebral
No caso da criança em idade escolar, a Psicolingüística define a dislexia como um fracasso inesperado na aprendizagem da leitura (dislexia), da escrita (disgrafia) e da ortografia(disortografia) na idade prevista em que essas habilidades já devem ser automatizadas. É o que se denomina de dislexia de desenvolvimento.
No caso de adulto, tais dificuldades quando ocorrem depois de um acidente vascular cerebral (AVC) ou traumatismo cerebral, dizemos que se trata de dislexia adquirida.
A dislexia, como dificuldade de aprendizagem, verificada na educação escolar, é um distúrbio de leitura e de escrita que ocorre na educação infantil e no ensino fundamental. Em geral, a criança tem dificuldade em aprender a ler e escrever e, especialmente, em escrever corretamente sem erros de ortografia, mesmo tendo o Quociente de Inteligência (Q.I) acima da média.
Além do Q.I acima da média, o psicólogo Jesus Nicasio García, assinala que devem ser excluídas do diagnóstico do transtorno da leitura as crianças com deficiência mental, com escolarização escassa ou inadequada e com déficits auditivos ou visuais.(1998, p.144).
Tomando por base a proposta de Mabel Condemarín (l989, p. 55), a dificuldade de aprendizagem relacionadas com a linguagem (leitura, escrita e ortografia), pode ser inicial e informalmente (um diagnóstico mais preciso deve ser feito e confirmado por neurolingüista) diagnosticadao pelo professor de língua materna, com formação na área de Letras e com habilitação em Pedagogia, que pode vir a realizar uma medição da velocidade da leitura da criança, utilizando, para tanto, a seguinte ficha de observação, com as seguintes questões a serem prontamente respondidas:
A criança movimenta os lábios ou murmura ao ler?
A criança movimenta a cabeça ao longo da linha?
Sua leitura silenciosa é mais rápida que a oral ou mantém o mesmo ritmo de velocidade?
A criança segue a linha com o dedo?
A criança faz excessivas fixações do olho ao longo da linha impressa?
A criança demonstra excessiva tensão ao ler?
A criança efetua excessivos retrocessos da vista ao ler?
Para o exame dos dois últimos pontos, é recomendável que o professor coloque um espelho do lado posto da página que a criança lê. O professor coloca-se atrás e nessa posição pode olhar no espelho os movimentos dos olhos da criança.
O cloze, que consiste em pedir à criança para completar certas palavras omitidas no texto, pode ser importante, também, aliado para o professor de língua materna determinar o nível de compreensibilidade do material de leitura (ALLIENDE: 1987, p.144)



6. Bibliografia e webliografia básicas:
1. ALLIENDE, Felipe, CONDEMARÍN, Mabel. (1987). Leitura: teoria, avaliação e desenvolvimento. Tradução de José Cláudio de Almeida Abreu. Porto Alegre: Artes Médicas.
2. CONDEMARÍN, Mabel, BLOMQUIST, Marlys. (1989). Dislexia; manual de leitura corretiva. 3ª ed. Tradução de Ana Maria Netto Machado. Porto Alegre: Artes Médicas.
3. DUBOIS, Jean et alii. (1993). Dicionário de lingüística. SP: Cultrix.
4. ELLIS, Andrew W. (1995). Leitura, escrita e dislexia: uma análise cognitiva. 2 ed. Tradução de Dayse Batista. Porto Alegre: Artes Médicas.
5. GARCÍA, Jesus Nicasio. (1998). Manual de dificuldades de aprendizagem: linguagem, leitura, escrita e matemática. Tradução de Jussara Haubert Rodrigues. Porto Alegre: Artes Médicas.
6. HOUT, Anne Van, SESTIENNE, Francoise. (2001). Dislexias: descrição, avaliação, explicação e tratamento. 2ª ed. Tradução de Cláudia Schilling. Porto Alegre: Artes Médicas.
7. MARTINS, Vicente. (2002). Lingüística Aplicada às dificuldades de aprendizagem relacionadas com a linguagem: dislexia, disgrafia e disortografia. Disponível na Internet: http://sites.uol.com.br/vicente.martins/
Vicente Martins é professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú(UVA), de Sobral, Estado do Ceará, Brasil.

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